Sol de inverno também queima
Por Ana Maria Bertelli
No verão ficamos muito preocupados com a alta exposição aos raios solares, mas às vezes esquecemos que, durante o inverno, é preciso manter o cuidado com o sol para prevenir o câncer de pele. Embora esta época do ano seja mais fria e não percebamos tanto o calor, é necessário lembrar que o sol continua enviando raios UVA e UVB e a exposição a essa radiações permanece sendo bastante prejudicial, pois mesmo com menores índices o dano promovido é cumulativo. Vale lembrar, então, que exposição solar “mais segura” é aquela feita antes das 10h e após as 16h, e o uso de protetor solar, com fator no mínimo de 30 e proteção UVA, deve ser mantido mesmo em ambientes fechados ou à sombra. E no inverno também.
Segundo dados do INCA – Instituto Nacional do Câncer, o câncer de pele não melanoma (carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular) é o tipo mais frequente no Brasil e sua frequência aumenta em pessoas com mais de 40 anos. A expectativa é de mais de 176 mil novos casos no Brasil – 83 mil em homens e 93 mil em mulheres, entre 2020 e 2022. Se somarmos a esses números os dados referentes à neoplasia do tipo melanoma – que é a mais agressiva – o número total sobe para 185 mil casos em dois anos.
O carcinoma basocelular (CBC) é o mais prevalente dentre todos os tipos. O CBC surge nas células basais da epiderme. Tem baixa letalidade, pode ser curado quando há detecção precoce e surge mais frequentemente em regiões expostas ao sol, como face, orelhas, pescoço, couro cabeludo, ombros e costas. O tipo mais encontrado normalmente se apresenta como uma pápula vermelha, brilhosa, com uma crosta central, que pode sangrar com facilidade - uma ferida que não cicatriza é a dica para alertar sobre esse tipo de tumor.
Já o carcinoma espinocelular (CEC) é o segundo mais prevalente dentre todos os tipos de câncer de pele. Manifesta-se nas células escamosas, que constituem a maior parte da camada superior da pele. Pode se desenvolver em todas as partes do corpo, embora seja mais comum nas áreas expostas ao sol, como orelhas, face, couro cabeludo e pescoço. Nessas regiões, normalmente a pele apresenta sinais de dano solar como enrugamento, mudanças na pigmentação e perda de elasticidade. O CEC é duas vezes mais frequente em homens do que em mulheres. Geralmente, as lesões de CEC têm coloração avermelhada e se apresentam na forma de machucados ou feridas ásperas, que não cicatrizam e sangram ocasionalmente. Ao contrario do carcinoma basocelular, o carcinoma espinocelular pode ser bastante agressivo, causar metástases e desfecho fatal ao paciente. A detecção precoce e o tratamento adequado resultam em grandes chances de cura ao doente.
O melanoma é o tipo menos frequente dos cânceres da pele, mas é o que tem o pior prognóstico e o mais alto índice de mortalidade. Embora o diagnóstico de melanoma normalmente traga medo e apreensão aos pacientes, as chances de cura são de mais de 90% quando há detecção precoce e tratamento adequado da doença. O melanoma, em geral, tem a aparência de uma pinta ou de um sinal na pele, em tons acastanhados ou enegrecidos. Porém, a “pinta” ou o “sinal”, em geral, mudam de cor, de formato ou de tamanho e podem apresentar sangramento. Por isso, é importante observar a própria pele constantemente, e procurar imediatamente um especialista caso detecte qualquer lesão suspeita. O melanoma pode surgir em áreas difíceis de serem visualizadas pelo paciente, embora sejam mais comuns nas pernas, em mulheres; no tronco, nos homens; e pescoço e rosto em ambos os sexos. Além disso, vale lembrar que uma lesão considerada “normal” para um leigo, pode ser suspeita para um médico.
Pessoas de pele clara e que se queimam com facilidade quando se expõem ao sol têm mais risco de desenvolver a doença. O melanoma tem origem nos melanócitos, as células que produzem melanina, o pigmento que dá cor à pele. Nos estágios iniciais, se desenvolve apenas na camada mais superficial da pele, o que facilita a remoção cirúrgica e a cura do tumor. Nos estágios mais avançados, a lesão é mais profunda e espessa, o que aumenta a chance de se espalhar para outros órgãos (desenvolvimento de metástases a distância) e diminui as possibilidades de cura. Por isso, o diagnóstico precoce do melanoma é fundamental. Embora apresente pior prognóstico, avanços na medicina e o recente desenvolvimento de novas drogas que atuam na resposta imune e em mutações específicas das células tumorais possibilitaram que pacientes com melanoma avançado tenham aumento na sobrevida e na qualidade de vida.
A hereditariedade desempenha um papel central no desenvolvimento do melanoma. Por isso, familiares de pacientes diagnosticados com a doença devem se submeter a exames preventivos regularmente. O risco aumenta quando há casos registrados em familiares de primeiro grau.
O mais importante é a conscientização sobre a importância do uso do protetor solar para que não se desenvolva câncer de pele. Em paralelo, é importante que todos estejam atentos para novas “pintas” ou mudanças nas lesões já existentes. Em situações como estas, busque imediatamente um especialista. Não tenho dúvida ao afirmar, portanto, que a melhor forma de combater o câncer de pele ainda é o diagnóstico precoce e o tratamento adequado. Já a melhor prevenção é o uso de protetor solar.
* Ana Maria Bertelli é dermatologista e professora do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa.
|