Cinco momentos em que a voz das mulheres fez a diferença
Relembre mulheres que expressaram sua liberdade em prol de direitos, poder de escolha e avanços nas conquistas sociais
Você sabia que, no Brasil, o voto feminino só foi autorizado em 1932? E que na Arábia Saudita isso só aconteceu em 2011? Pouco tempo, né? Eleger representantes, decidir pelo fim de um casamento, estabelecer limites, ter poder de escolha sobre as próprias decisões. Todas essas ações que tomamos hoje como “naturais”, na verdade, foram conquistadas.
As mulheres avançaram em alguns direitos, é verdade, mas ainda há muitas pautas a serem discutidas. Questões de raça, classe, idade e outros marcadores sociais atravessam vários momentos da história e fazem crescer o debate. Afinal, as mulheres não são todas iguais e suas demandas também são plurais.
Na lista abaixo, elencamos cinco momentos em que a expressão livre do pensamento e o poder de escolha sobre os direitos e a felicidade das mulheres criaram debates importantes e fizeram a diferença. Confira:
1. A resistência de Rosa Parks
Rosa Parks se tornou um dos símbolos da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Em 1955, ela estava em um ônibus em Montgomery, no Alabama, voltando do trabalho. Naquela época, pelas leis de segregação racial, os ônibus reservavam as primeiras filas de assentos para os brancos e as últimas para os negros. No centro do veículo, os brancos tinham preferência.
Rosa, que era negra, estava sentada quando o motorista pediu que ela se levantasse para dar lugar a um passageiro branco. Ela se recusou, foi detida e sua atitude provocou um boicote aos ônibus da cidade. Nesse contexto, surgiu a figura de Martin Luther King, que mais tarde liderou o movimento pela igualdade dos direitos civis.
Embora ao longo de sua vida Rosa tenha sido condecorada com diversas medalhas por sua bravura e resistência, logo após o episódio ela enfrentou desafios. Teve dificuldade em conseguir emprego e sofreu ameaças, tendo até mesmo que mudar de cidade. A ativista faleceu em 2005, aos 92 anos.
2. A articulação de Bertha Lutz
Uma das pioneiras do movimento sufragista no Brasil, Bertha Lutz foi responsável pela articulação política que resultou na aprovação do voto feminino em 1932. Mas houve restrições. Solteiras e viúvas com renda própria podiam votar, enquanto as mulheres casadas ainda precisavam da autorização do marido.
Dois anos depois, Bertha participou do comitê elaborador da Constituição de 1934, quando foram assegurados os direitos políticos das mulheres, tornando o voto feminino obrigatório, assim como o masculino. É importante lembrar, no entanto, que as pautas das mulheres não se restringem ao direito de voto, tendo sido, na maioria dos países europeus (e no Brasil), uma demanda das feministas brancas que muitas vezes não faziam nada pelas mulheres negras. Vale ficar de olho nos recortes da história, certo?
Ainda assim, exercer o poder de escolha político, por meio do voto, é fundamental para o funcionamento de uma democracia. Na Arábia Saudita, para se ter uma ideia, as mulheres só tiveram seu direito ao voto reconhecido em 2011, e exerceram-no pela primeira vez nas eleições municipais de 2015.
3. O discurso de Sojourner Truth
Sojourner Truth trouxe um poderoso discurso em uma convenção de mulheres em Akron, Ohio (EUA), em 1851. A fala que ficou depois conhecida como “Não sou eu uma mulher?” teve consequências profundas. Homens contrários aos direitos de voto feminino alegavam que as mulheres não poderiam votar pois precisavam de ajuda para tudo.
Como ex-escravizada, Sojourner tocou em um ponto fundamental ao dizer, conforme uma das versões registradas: “Aquele homem ali diz que as mulheres precisam ser ajudadas a entrar em carruagens, e erguidas para passar sobre valas e ter os melhores lugares em todas as partes. Ninguém nunca me ajudou a entrar em carruagens, a passar por cima de poças de lama ou me deu qualquer bom lugar! E não sou mulher?”
O discurso não só era uma resposta aos opositores homens, mas também às atitudes racistas das mulheres brancas que estavam na convenção, já que algumas inclusive foram contra a fala de mulheres negras no evento. Historicamente, a importância do discurso de Sojourner Truth é garantir que as mulheres negras, assim como as brancas, também obtenham direitos.
4. A liderança das trabalhadoras francesas
Em janeiro de 2018, um grupo de trabalhadoras francesas (a maioria imigrante de outros países) obteve vitória sobre seu empregador, uma empresa de limpeza terceirizada que presta serviços à Sociedade Nacional de Ferrovias Francesas.
Depois de 45 dias de greve, as trabalhadoras, que atuavam nas estações de trem de Paris, conseguiram garantir diversos direitos, como, por exemplo, a anulação de uma cláusula de mobilidade (que deu origem à greve) que obrigava trabalhadores a mudar de lugar de trabalho depois de um curto período de tempo.
Os protestos das trabalhadoras das estações de trem aconteceram no contexto dos chamados “coletes amarelos”, grupos que protestavam contra reformas trabalhistas propostas pelo governo.
5. A força de Maria da Penha
O nome Maria da Penha virou um sinônimo da luta contra a violência doméstica. A biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes sofreu violência física e psicológica do ex-marido até culminar em uma tentativa de feminicídio, em 1983, quando ele deu um tiro nas costas de Penha, o que a deixou paraplégica. Depois de algumas derrotas na Justiça, em 1998, junto com entidades internacionais, Maria da Penha denunciou o caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA).
Em 2002, foi formado um consórcio de ONGs para a elaboração de uma lei de combate à violência doméstica contra a mulher. Em 2006, foi sancionada a Lei que ficou conhecida como “Lei Maria da Penha”, um reconhecimento de sua luta contra as violações dos direitos humanos das mulheres.
Além desses, há muitos outros momentos importantes na história das mulheres. E você? Lembrou de algum acontecimento em que a voz das mulheres fez a diferença? |