Paulo Gustavo deixa legado de amor, empatia, tolerância e luta contra preconceitos
Obra e discurso do ator prezavam pelo combate à homofobia, ao racismo e a outras causas.
A obra de Paulo Gustavo não só divertiu o Brasil, mas também dava exemplo de amor, empatia e tolerância. Gays, negros e outras minorias eram fontes das esquetes de humor do ator. Com sutileza, delicadeza, ele fazia as pessoas pensarem, refletir, aprender e sentir orgulho.
A sua própria sexualidade esteve no alvo de sua obra e em algumas entrevistas que deu.
“A criança vai me assistir, me adora. O adolescente me adora, o idoso me adora. Então quero pegar todo mundo e quero dizer que sou gay. Eu quis fazer isso. Então, eu quis mostrar isso para as pessoas, transformar as pessoas”, disse.
Em “Minha mãe é uma peça”, Paulo Gustavo representou a mãe, e o personagem Juliano era inspirado nele mesmo ao revelar que era gay.
Dona Hermínia, a personagem principal da peça e do filme, ajudou milhares de mães brasileiras a aceitarem os filhos como são.
“O amor de dois homens, um casamento gay no cinema, maior bilheteira, uma importância para família, referência imensa e ele deu essa exposição com naturalidade, de forma franca, muito inspirador”, disse a atriz Nanda Costa.
Paulo Gustavo não se restringiu a abrir espaço para as causas LGBT. Depois de um episódio polêmico, liberou sua rede social por um mês para a filósofa Djamila Ribeiro explicar a importância da luta contra o racismo.
“A ação pioneira, para falar para milhões, influenciou muitas pessoas. É muito importante falar do Paulo que se colocou no lugar para aprender as questões do meu trabalho, com a sua generosidade para levar isso para muita gente”, disse Djamila.
O ator também apoiava causas sociais, mas não revelava.
Em 2017, ele doou R$ 1,5 milhão para a obra social Irmã Dulce, em Salvador. Na sua cidade natal, Niterói, doou durante a pandemia, mais de 700 cestas básicas par os moradores do Morro da Grota.
A amiga e diretora dos filmes, Susana Garcia revelou que durante três meses no ano passado, ele depositou R$ 1 mil por mês para quase 120 pessoas que trabalharam nos filmes e, com a pandemia, ficaram desempregadas.
Ele também mandou R$ 500 mil para a compra de oxigênio no Amazonas, que estava em falta.
Na vida pessoal, Paulo Gustavo também dava um exemplo de representatividade. Casou com o médico Thales Bretas e juntos tiveram dois filhos.
“Muitas vezes a gente foi taxado como não poderia ter uma família, não ter filhos. Essa família pode ser dois pais, pode ser duas mães, pode ser um pai e uma avó, pode ser um tio, uma tia, não existe isso. Existe amor”, declarou ele em entrevista.
Gael e Romeu nasceram em 2019, nos Estados Unidos, após um processo de inseminação artificial em barrigas de aluguel.
“Paulo também mostrou que LGBTs têm famílias, e fazem parte de famílias que os amam, como ele mesmo foi amado. Ele mostrou pela família que é amor, não importa se são dois pais, duas mães. Somos eternamente gratos a ele”, disse o advogado Thiago Amparo.
Em seu último programa na TV, deixou o recado e o exemplo: “Enquanto essa vacina tão esperada não chega para todo mundo é bom lembrar que contra o preconceito, a intolerância, a mentira, a tristeza, já existe vacina. É o afeto. É o amor. Então, diga o quanto você ama quem você ama. Mas não fica só na declaração não, gente. Ame na prática, na ação. Amar é ação. Amar é arte. Muito amor, gente. Até logo!” |