GUSTAVO, O PAULO
Paulo Gustavo é o maior humorista contemporâneo... não tenho dúvida disso. Onde passava atraía holofotes para iluminar sua presença radiante. Emanava luz própria e sabia disso... tinha consciência de seu talento como poucos artista que já vi.
Seu caminhar já era acompanhado por um imenso “tapete vermelho” sob seus pés. Tudo que ele abraçava como projeto, profissional ou pessoal, era alardeado na imprensa. Ele era quase um reality show ambulante da vida real.
O público e seus fãs estavam por dentro de tudo que ele fazia... detalhe por detalhe.
Mas tinha algo muito grave que o artista fazia e tentava esconder a todo custo do grande público.
Algo extremamente grave nos dias de hoje.
Gustavo, o Paulo, era uma pessoa que amava combater de alguma forma a desigualdade social. Como benemérito das obras da Irmã Dulce ele doou 600 mil reais para a construção da unidade de tratamento oncológico da Osid. Visitou a obra poucas vezes.
Paulo doou um total de um milhão e meio de reais para a obra... fora as outras ações que encampava as escondidas para evitar holofotes que não fossem para evidenciar a sua arte.
Paulo, o Gustavo... morreu... e desde a sua internação foi acusado por alguns fariseus contemporâneos de estar sendo punido por brincar com deus! E escrevi justamente esse deus aí com letra minúscula porque o Deus com a letra maiúscula guarda agora a morada eterna do Gustavo, que fez o bem e espalhou alegria em sua curta passagem por aqui.
Mas Paulo Gustavo pecou em querer justiça social.
Em geral, Brasileiro ama ajudar o necessitado com esmolas, mas odeia a tal da justiça social.
Quando faz caridade... massageia seu ego samaritano e satisfaz seu religioso senso humanitário.
Já a justiça social faz com que as classes se igualem... aí é imperdoável... quem ajuda de coração sem publicidade é justamente um alvo.
Gustavo era gigante por querer um Brasil com mais sorriso e menos sofrimento. E fez mais do que muitos que tinham a obrigação de fazê-lo.
Paulo Gustavo atravessou a ponte... e nela estava estendido o tapete vermelho.
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PS: Internamos no mesmo 13 de março. Intubei dia 14 e ele dia 22. Só fiquei sabendo de sua condição ao sair da UTI. Cada vez mais agradeço a Deus por uma segunda chance... e aos amigos pelas orações.
E duro saber que chegaremos a meio milhão de mortos no país por uma doença que já tem vacina. A comorbidade mais letal que existe é viver em um país tão negacionista em plena maior pandemia dos últimos anos.
Jefferson Rocha – Jornalista, sobrevivente e fã desse cara ai |