Padre da Basílica de Trindade é sócio de rádio que recebeu R$ 96 milhões da associação de padre Robson, diz MP
Empresa tem como sócio um advogado que é investigado por ter realizado transações milionárias com a Afipe. Antes, ex-doméstica do Santuário do Divino Pai Eterno era a sócia da rádio. Padre Robson nega desvio de doações de fiéis.
O padre Antônio Carlos de Oliveira, de 64 anos, lotado como sacerdote no Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade, é citado no processo do Ministério Público de Goiás (MP-GO), que investiga possíveis desvios de dinheiro dos devotos, como sócio de uma rádio sediada em Goiânia e que recebeu 37 transferências que somaram R$ 96 milhões da Associação Filhos do Pai Eterno e Perpétuo Socorro, uma das entidades fundadas pelo padre Robson de Oliveira.
Segundo o MP-GO, os pagamentos levantaram a suspeita de lavagem de dinheiro "em virtude da elevada quantia e da forma empregada para as transferências". A investigação das movimentações financeiras e imobiliárias das Afipes desencadeou a Operação Vendilhões, que apura desvios de R$ 120 milhões nas contas das associações.
O G1 pediu um posicionamento à Ordem Redentorista de Goiás, já que o padre pertence à Congregação do Santíssimo Redentor, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Outro citado como sócio do padre, Anderson Reiner Fernandes, não atendeu às ligações efetuadas na tarde de sábado (29).
Já padre Robson nega as irregularidades. A defesa do sacerdote informou em nota que ainda se dedica ao inquérito próprio (PIC), ao qual teve acesso apenas nesta semana. "Tão logo os advogados acessem todas as suposições do Ministério Público do Estado de Goiás, as informações necessárias serão prestadas e esclarecidas ponto a ponto. O padre Robson é o maior interessado na verdade e na transparência. A defesa aguarda e insiste com o Ministério Público para que ele seja ouvido, o que não aconteceu nem foi agendado até então".
São três associações sob investigação que são ligadas ao Santuário Basílica de Trindade. Todas foram fundadas por padre Robson: Associação Filhos do Pai Eterno, Associação Filhos do Pai Eterno e Perpétuo Socorro e Associação Pai Eterno e Perpétuo Socorro. Elas são chamadas, pelos investigadores, de Afipes.
As entidades foram criadas pelo padre Robson a partir de 2004, com o objetivo de proporcionar auxílio na vivência da fé e propagar a devoção ao Divino Pai Eterno. O religioso era responsável pela administração do Santuário Basílica de Trindade, um dos maiores do Brasil, mas se afastou das funções temporariamente para colaborar com o MP-GO.
Ao todo, os repasses para empresas de comunicação somam R$ 456 milhões. Esses pagamentos também são investigados, segundo os promotores, por não ter afinidade com o objetivo final da Afipe, que é proporcionar auxílio na vivência da fé e propagar a devoção ao Divino Pai Eterno.
“As rádios não têm nada a ver com a regulação de programação religiosa. Está bem distante da finalidade”, disse o promotor de Justiça Paulo Penna Prado, que está no grupo da investigação do MP-GO.
O Ministério Público de Goiás revela na investigação, em documentos enviados ao Tribunal de Justiça de Goiás, que "permanecem como sócios da referida empresa Anderson Reiner Fernandes e Antônio Carlos de Oliveira, que seria sacerdote na Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade".
Sociedade entre investigados
Sócio do padre Antônio Carlos, Anderson Reiner Fernandes é advogado da Afipe e aparece diversas vezes na investigação por realizar operações com as associações do Divino Pai Eterno, as quais são consideradas suspeitas pelo MP-GO
Anderson Reiner teria feito cinco transações imobiliárias com a Afipe de mais de R$ 2 milhões. O negócio da casa de praia na Bahia, por exemplo, vendida à entidade, foi feita pela empresa do advogado, conforme o MP-GO.
Para chegar ao padre Antônio Carlos, o MP cruzou dados de Anderson na base de dados da Receita Federal do Brasil. Os promotores verificaram que outra pessoa investigada como "laranja" do padre Robson também foi sócia da rádio. Trata-se de Celestina Celis Bueno, de 59 anos, que foi dona da rádio entre 2014 e 2016.
Advogada de Celestina, Cláudia Seixas disse que não irá se manifestar, em respeito às investigações.
Anderson Reiner entrou na sociedade na mesma data que Celestina Bueno saiu, em outubro de 2016. Ela era ex-doméstica do Santuário do Divino Pai Eterno entre 2011 e 2014, quando passou a figurar como sócia em três emissoras de rádio e teve um avião, que foi vendido depois para o padre Robson por R$ 2 milhões.
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